Buenos Aires, 27 de
Setembro de 2011.
Eis que chego à minha terceira
estação aqui. Finalmente chegou a Primavera. E conto a você que é
impressionante como a paisagem já muda. A árvore em frente a minha casa, mais
precisamente, que está justo em frente a janela da sala de casa, que parecia
morta, todos os galhos secos, ela, que já não tinha muita cor, a não se os
passarinhos que iam namorar lá todo dia, agora já começa a saltar ramos verdes.
A natureza ali bem debaixo dos meus olhos. E assim estão as veredas – calçadas,
cheias de árvores frondosas todas exibidas se mostrando lindas pra gente. E aí,
você passa por uma das 987 praças que estão espalhadas por Buenos Aires, cheias
de gente. Crianças correndo, velhinhos tomando sol, jovens se encontrando. O
silêncio do inverno está indo embora. Eu que estava sedenta pelo calor, ainda
observo de longe, sentindo a onda do clima, como dizem aqui.
Mas é uma beleza, hei de
confessar. Talvez nada me deixa tão feliz quanto o sol. É bem sabido que sou
uma calanga por natureza e se eu pudesse ficava aí, namoradinha com sol. Pois
além de muito branca e a camada de ozônio não tá de brincadeira, a vida corre e
eu passo de raspão do solão.
Há coisas para fazer. E meu
luxo de ficar ali quietinha, adquirindo energia solar para o resto do dia, não
passa de uns minutinhos durante o caminho rotineiro. Falo só mais um pouco da
Primavera, prometo. Você precisa ver como ela é recebida aqui. Todos os lugares
tem faixas de boas vindas, todas as pessoas ao primeiro dia já estão com flores
nas mãos, sejam porque lhes deram, seja porque compraram em alguma floreria –
detalhe para o fato de existirem muitas, muitas, floriculturas (que é chamada
aqui de floreria) em todos os lugares. E digo mais: não é só agora não. Elas
são várias e são como bancas, abertas 24 horas!!! E todos nesse dia lhe desejam
“Feliz Primavera”, tal qual a celebração do Dia do Amigo. Pois bem, a dita cuja
chegou, meio tímida, é verdade, pois no Segundo dia, já caiu a temperatura, 8
graus, choveu, e da-lhe tirar o casaco e a botinha do armário.
Mas eis que já
amanheceu um dia lindo, azul, e já vejo meus braços e pernas for a de casa
novamente. E um convite para tomar uma caipirinha. Digo porque os portenhos
acham que brasileiro toma caipirinha todo dia, até no café da manhã. Aí para
te agradar ou sei lá o quê, falam de caipirinha, praia e queijo quente. Eu, dou
corda.
Ainda que seja tão
comemorada assim a nova estação, não vejo tanta felicidade assim da parte dos
nativos. Ok que estamos recém primaverados e não posso ousar tirar uma
conclusão tão séria como essa. Mas sinto que eles gostam do frio. Muito cá
entre nós, tenho achado estranho não usar minha bota vermelha.
Dos hábitos que reforcei
aqui, foi o de ler jornal todos os dias. Mas agora são quatro. Não saio de casa
sem antes ler um par de notícias e ver a previsão do tempo. Dependendo do meu
humor, me arrisco a ver meu horóscopo. E cavuco notícias, viu?! Ave Maria. E
quando tenho a tarde livre, me arrisco a ver o noticiário. Não muito diferente
das tardes televisas brasileiras, aqui tem notícia de morte, seqüestro,
escandalos com famosos etc e tal. Na tv aberta aqui passa a TeleSur. Aproveitei
o dia de folga na última semana e vi/ouví a participação de alguns presidentes
na reunião da ONU. Hahahha…. Sabe que TeleSur tem sua base maior na Venezuela,
né?! E haja informação do Hugo Chavez. Houve um ato ecumênico em Nova York,
onde estavam várias pessoas, entre elas o presidente boliviano Evo Morales. E
qual não foi a surpresa? Chavez ao telefone ao vivo participa do ato. E falou
com fulano, com ciclano…um bafuá. Isso tudo dentro da igreja. Muy gracioso!
Muito moderno. Mas achei bom demais o discurso da Cristina (Cris Kishner). Bom
demais é um exagero. Mas ela falar que o Velho Continente precisa com urgência
a saber lidar com a crise, sobretudo, financeira que têm passado, completando o
discurso da Dilminha, dizendo que eles/nós, podemos ensinar muito, afinal, ô
nós que vivemos crises. E uma tal lá dando conselhos para Argentinas, Brasil e
afins. A mesma tal (pessoa que agora esqueci o nome) deu conselhos para Grécia
no ano passado. Palmas!
Aqui as últimas repercussões foram a absolvição do Carlos Menen, ex presidente que respondia por o
envolvimento com financiamento de armas e corrupção; uma mulher, que divorciada
do marido há algum tempo, quer usar o semêm congelado dele para engravidar, ele
a proibiu, pois não há motivos plausíveis e ele não quer filho com ela (!), a
mulher recorreu e a justiça a autorizou a usar (mas tá quente o negócio, não se
fala em outra coisa) e o Mundial de Rugby, que não me pergunte o que é. Soube
há pouco que é um esporte e um êxito da Argentina. Entre outras coisas como o
terrível acidente com o trem aqui no bairro de Flores. Foi imensamente terrível mesmo. Muito perto do campus que estudo.
Faz tempo que não escrevo,
né?! Nem sei muito mais o que contar, o que é novo ou não. Bom, esse mês de
Setembro foi comemorado o mês do Brasil na Argentina. Muita coisa passou por
aqui. Entre ellas uma festa na rua. Fubá demais. Devia ter chamado Porto Seguro
Day. Três bolinhas de pão de queijo, 10 Pesos! Baiana tomando mate e uma banda
cantando a música que dizem ser uma das mais famosas do Brasil: “ô Mila”. Entre
os festejos, houve dentro do Festival Internacional de Literatura de Buenos
Aires homenagens/mesas sobre literatura brasileira. Me programei para ver as
falavam de Machado de Assim, Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Ah, mas queria
muito saber o que os argentinos e os demais vizinhos de língua hispânicas
tinham a dizer sobre escritores brasileiros muito singulares. Tomei a tarefa
quase como guardiã. Haha… O fato é que depois que me mudei pra cá, percebi (mais)
a importância da nossa língua e me dei conta da veneração que os argentinos
tem pelo Brasil e sobretudo pela arte. Durante esses dois dias que estive lá no
Festival, mais ainda. Vi o Grande Sertão Veredas traduzido. Ainda não o
comprei, mas o paquerei, passei por páginas e curiosa em demasia, queria ver como
fizeram para traduzir o intraduzível. Não tenho resposta ainda para dar, a não
ser que eles explicam o que é Jagunço, e que virou Yagunzo. E foi interessante
ver a sala cheia em um sábado a noite, gente de todas as idades e lugares,
escutando análises e contos de Clarice Lispector. Feliz de mim!
E como não poderia deixar
de ser, eis mais uma pérola dessa que vos escreve. Dentro do ônibus, eu e
Julieta. Vejo um cartaz de uma festa que tinha um nome chamativo, amor alguma
coisa, não lembro ao certo. Aí Juli diz: “Essa festa aconteça em um antigo prostíbulo”. Eu: “Igual a Casa Rosada?”. Obvio que com meu tom de voz. Pessoas
se viram para ver quem conversava. Explico: Confundi Casa Rosada (a sede do
governo Argentino) com Casa Rosa, anti puteiro de luxo no Rio de Janeiro, em
Laranjeiras, que hoje é um lugar que acontece festas (ótimas) e como Juli já
morou no Rio, sabia ao que me referia. Anfam, entre conchas, cajetas e Casa
Rosada, salvaram-se todos.
Te mando um beijo. Feliz
Primavera!
Maria